sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Discurso em nome dos formandos na Escola Técnica Federal de Minas Gerais. Ginásio do Minas Tênis Clube, dezembro de 1975.

Formandos(as)!

Deixemos de lado a falsa modéstia. Localizemo-nos,  neste instante, dentro da estrutura social de nossa época. Olhemos para dentro de nós mesmos, e para fora, e sintamos que em nossas mentes, em nossa capacidade, está uma grande parte das esperanças de um um grande Estado de Minas Gerais, de uma grande Nação e, principalmente, as esperanças de uma sociedade que já não vive sem a nossa participação. Somos uma força. Somos parte vital de uma Nação que cresce. Somos quem impulsiona o progresso. E, como voz que fala em nome desta força, me agiganto neste instante, credenciado que fui a representá-la.

A emoção que sinto neste momento é a mesma que vejo estampada em cada um de vocês. Esta foi mais uma vitória conseguida pelos eternos lutadores das nações que crescem; das pátrias se desenvolvem. Luta e vitória contra o monopólio da cultura, da técnica e da especulação científica! Quanto mais se repetirem momentos como este, mais perto nos encontraremos do objetivo maior que nos impulsiona à luta, ou seja, submeter a ciência e a técnica à condição de armas indispensáveis ao nosso crescimento social e econômico.

A descaracterização dos conhecimentos científico e tecnológico como arma dos grandes, e a consequente absorção de tais conhecimentos pelos menos dotados de condições materiais, constituem, sem dúvida, a maior das esperanças de uma nova ordem mundial. Ordem que se fundamenta no incentivo à criação de uma mentalidade científica, criando e desenvolvendo técnicas responsáveis pelo bem estar social, paralelamente à criação de uma mentalidade humana evoluída, dentro dos padrões de uma civilização altamente consciente.

Torna-se extremamente difícil de falar de responsabilidade num momento como este. Seria mais agradável convidá-los para tomar uma cerveja, e esquecer por um instante tudo que se relacione com o passado, que foi duro, ou com o futuro, o qual já estamos habilitados a vencer,  e venceremos, sem dúvida.

É lógico que estamos a transbordar de alegria, pois a habilitação que nos foi dada representa, nada mais nada menos, que a nossa emancipação financeira. Estamos em condições de respirar aliviados, porque qualquer empresa que necessite de profissionais da nossa categoria os encontrará aqui, prontos para prestar um bom serviço por um bom salário. Entretanto, é triste saber que muitos optarão pelo comodismo, e se transformarão em especialistas passivos, meros executores de técnicas sempre importadas a alto preço.

Sabemos que nós, formados pela Escola Técnica Federal de Minas Gerais, não temos o nosso conhecimento restrito à limitação que nos é imposta pelo grau oficial de instrução, mas amplos e variados caminhos se abrem para todos, mesmo para aqueles que não pretendem ou que não podem dar continuidade a seus estudos em caráter oficial.

"Know How" é a palavra que domina.  Brasil importa Know How. O Brasil quer e precisa desenvolver um Know How e, esta palavra que hoje se impõe. Saber fazer, no mundo atual, é muito mais importante que possuir a matéria prima, mas, se a possuímos e sabemos como processá-la, agregando-lhe valor, então somos uma potência,  e nisto os fundamentos de nossas esperanças.

As portas se abrem para todos. Para os egoístas, aqueles que não pensam em termos de uma família, sociedade ou nação, mas unicamente em função de si próprios, eis uma feliz alternativa de se verem beneficiados, e beneficiar ao mesmo tempo: desenvolver Know How. Para os abnegados, idealistas e patriotas, eis a oportunidade: desenvolver Know How.

Somos quase mil técnicos, e formaremos quase mil famílias!

Admitindo a ideia pessimista de que o Brasil começa aqui, mil famílias, crescendo em progressão geométrica, tanto em número quanto em objetivos, representariam um peso extremamente forte na balança de valores que fazem uma nação.

Gostaria e ver em cada um uma resposta positiva ao desafio lançado, há muito, pela comunidade global e pela Nação brasileira: o desafio à luta contra o prefixo "sub", que sempre se encontra a marginalizar os ideais dos que lutam por dias melhores. Para uns existe o superdesenvolvimento, a superprodução e bens, super-homens! Para outros o subdesenvolvimento, a subnutrição. sub-homens!

Seria isso consequência da má distribuição de bens pelo nosso Criador, ou ação das forças invisíveis que tantos pregam para fugir à responsabilidade de construir suas condições de vida? Creio ser preferível pensar que, se ocorre tal discrepância, é porque não houve até agora um denominador comum de interesses, ou uma busca profunda dos motivos.

Vemos, hoje, que se empreende uma luta gigantesca, tendo como meta inicial a eliminação do analfabetismo, e como meta final tornar cada cidadão um elemento produtivo e atuante na construção de uma sociedade feliz. A prova disso é que milhares de jovens, como nós, estão sendo entregues à Nação como mão de obra especializada e capaz não só de seguir instruções e roteiros, como também de pesquisar, descobrir e aplicar técnicas.

Todos sabemos que começamos com a importação de cérebros e, hoje, pela excelente formação nas diversas tecnologias, já os exportamos. Isso mostra que somos tão capazes quanto quaisquer outros povos e que já se pode promulgar pelo mundo a excelência da indústria nacional.

Esta foi a primeira vitória significativa de nossa vida estudantil. Todos nos orgulhamos disso. Sabemos contudo que nada teríamos conseguido por nós mesmos, a maior prova de que a mentalidade brasileira mudou fundamentalmente. Resta-nos desejar que no coração de cada um, a despeito do que aconteceu com o cérebro, viva o desejo de viver aqui, de servir aqui, de produzir aqui o benefício da Pátria.

Agradecemos de coração, em nome de mil corações, a todos que sempre nos ajudaram, quer direta, quer indiretamente na procura e realização dos nossos ideais.

Senhor paraninfo dos formandos e governador do Estado de Minas Gerais. Em nome desta força que acaba de nascer; destes jovens que agora se emancipam definitivamente para a vida, nos posicionamos a favor do dinamismo, da justiça social, da ação a cada instante, e esperamos que o seu lema não seja outro, senão este. Unidos, governo e técnicos, pedimos passagem aos fracos e indecisos, e não aceitamos outra posição para o nosso Estado senão a da excelência.

Senhor diretor da Escola Técnica Federal de Minas Gerais. A força que acaba de entregar ao Estado de Minas Gerais e ao Brasil, unida, hoje e sempre, espera que, à frente desta Escola, não aceite também outra posição para ela, senão a da excelência na formação de todos que nela ingressarem.

Senhores pais, incansáveis na procura do melhor para cada um de nós, amigos sinceros a quem devemos grande parte desta realização. Saberemos ser o orgulho da sua velhice e responderemos aos seus anseios à altura da sua dignidade,

Senhores professores, a quem rendemos o maior respeito e admiração. Se alguma vez os importunamos, creiam, o nosso ímpeto juvenil e a força que nos impele à vida, foram as razões dos nossos preconceitos, muitas vezes inoportunos, sobre a sua classe e sobre o nosso futuro. Agora cremos nele porque o vemos sorridente, animador. Agradecemos a vocês, que nos transmitiram idealismo ilimitado!

Gente a quem tanto devemos: nós só existimos porque vocês existem.

Adeus gente simples. Adeus gente boa. Até a próxima conquista!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Discurso de formatura, 1971. Colégio Estadual de Dom Cavati, MG

Sob a influência das emoções que se mesclam em nossos semblantes, volto a viver um sentimento tão inexplicável, como somente uma vez na vida vivi. Foi quando, um tanto desconfiado, ingênuo e assustado,  galguei pela primeira vez as escadas deste estabelecimento.

Quando o vi pela primeira vez, jamais pensei que um dia fosse representar tanto para mim; jamais cogitei na grandiosa função que ele desempenha; jamais cuidei que me custaria tanto deixá-lo. Sim, deixá-lo ... Esta palavra não chega a aflorar aos meus lábios como quem vive este momento, senão como quem tem a obrigação de, neste instante, dirigir-vos uma mensagem.

Custa-me crer que tenho que sacrificar o sentimento à necessidade, pois necessário é que partamos. Na verdade não sei o que sinto. Se  pre-nostalgia de uma quadra que tão marcante ficou em nossas vidas, se a alegria de ter coroado com êxito parte da empreitada a que nos dedicamos... só sei que sinto. Sinto algo intangível, estranho, e que faz vibrar profundamente as cordas do meu coração. Sim. Todos sentimos, e a maneira mais sublime de evidenciar esta minha afirmação genérica é a sublime expressão do silêncio que paira neste instante sobre os vossos espíritos.

Mas, afinal, o que é a vida? Não é uma sucessão de momentos alegres e de intempéries, de sorrisos e de lágrimas, de sofrimentos e prazeres? E, além disso, não tem mais do que duas portas: uma de entrada, outra de saída. Ninguém, sendo designado para que entre, poderá adiar o momento; do mesmo jeito que, em se chegando a ora da saída, poderá evadir-se pelos fundos. 

Sobra-nos um estreito lapso de tempo entre essas duas portas, e isto é o que chamamos de vida. Resta-nos saber viver para não desperdiçarmos esse tempo precioso que nos legou o criador do Universo. Viver, não como um ocioso, um covarde, um frívolo, ou como vive grande parte da Humanidade; mas, como deve viver um ser feito à imagem e semelhança de Deus. Viver para a glória de quem nos criou, desenvolvendo nossa inteligência para completar nossa criação.

Viver, ainda, para deixar na Terra a nossa marca, e ela não ficará aqui somente com as nossa fisionomias fugitivas, nossa malfadada filáucia (como nos diz Rui Barbosa), mas com as lágrimas que aqui deixarmos, com nosso exemplo de trabalho, de fé, confiança, lealdade, exemplo de gente, não de fantoche! Quem disser o contrário; quem zombar dos que assim fazem, deixemo-lo zombar até que um dia, frustrado no mesquinho ritmo de vida que levou, se reconheça responsável pelo fracasso da própria vida. Aqui é isto que temos aprendido: aprendido a viver, aprendido como se vive para não nos constituirmos mais uma carga para a Humanidade, mais um explorador de incautos, um miserável a mais para retardar o desenvolvimento dessa sequiosa nação brasileira.

Se observarmos os semblantes, um tanto gastos pelo labor, de nossos queridos mestres, encontraremos neles uma sublime expressão de heroísmo, de estoicismo - não intransigência -,  de confiança, como quem se desincumbiu de uma tarefa mui árdua. Não podemos negar-lhes esses valores: são, na realidade, heróis do ensino. Dedicaram-se à essa nobre missão, nem sempre pela remuneração, mas pelo prazer de formar cidadãos competentes e honestos, muitas vezes sem serem reconhecidos pelo seu trabalho.

O que temos a dizer-vos,  mestres,  é que saberemos lutar até o fim para conseguirmos um lugar ao sol,  para sermos úteis à nação que tão graciosamente nos prepara, porque não nos pertencemos inteiramente. Temos um débito para com o povo brasileiro, para convosco. No entanto, se a nossa sorte não nos interessar, interessar-nos-á a sorte da nossa Pátria, porque o que somos ou o que temos devemos a ela.

Obrigado mestres, obrigado funcionários deste estabelecimento, obrigado a todos vós que vos dignastes a colaborar com esta grandiosa missão.

Obrigado senhores pais, porque jamais medistes sacrifícios para nos legar este bem que é o saber. Obrigado porque, embora não tivésseis, alguns de vós, a oportunidade que nos destes, não vos baseastes em sofismas, tais como: não sei, para que ensiná-los? Obrigado por terdes compreendido que vossos filhos precisavam se libertar da pressão deste tirano analfabetismo. Digo-vos que não tereis por que arrependerdes. Saberemos usar estes anos que aqui passamos fazendo deles a mola propulsora de grandes realizações. Saberemos ser, saberemos querer, saberemos conseguir!

Adeus colegas, ide com Deus.
Pais, suplicai por vossos filhos, continuai lutando por eles e os vereis, orgulho de vossa velhice, homens de bem, homens honrados.

Adeus ...